Além das medalhas: como a gestão de imagem prepara o atleta para o pós-carreira

O jogo não acaba quando o cronômetro para

Quem vive o esporte de perto sabe: a linha de chegada nunca é o fim.
Eu cresci nesse ambiente, entre treinos, competições e histórias de superação. O esporte fez parte da minha formação pessoal e profissional, e até hoje continua presente, agora também como mãe de atleta.

Por isso, falar sobre pós-carreira é falar de algo que eu vejo todos os dias, nas conversas de bastidor, nas dúvidas dos atletas e nas lacunas que o sistema ainda não consegue preencher. A vida útil de um atleta é curta, e a transição para o que vem depois pode ser desafiadora.
Mais do que uma mudança de rotina, ela é uma mudança de identidade.

E é aí que entra um ponto muitas vezes esquecido: a gestão da imagem.
Porque o que o atleta constrói enquanto ainda está no auge é o que o sustenta quando os holofotes se apagam.

A imagem é o que permanece quando o uniforme sai

Durante os anos de competição, o foco está em desempenho, resultados, performance. Mas é a imagem, aquilo que o atleta comunica, inspira e representa, que permanece.

Uma pesquisa publicada na Sport Management Review em 2024 mostrou que atletas que cuidam da sua marca pessoal ainda durante a carreira têm 25% mais chances de manter relevância e estabilidade financeira no pós-carreira.
E isso não se resume a visibilidade: trata-se de coerência entre discurso e atitude, reputação construída e valor percebido pelo mercado.

A imagem é o que transforma performance em legado.
Quando o público se conecta com a história e os valores do atleta, ele deixa de ser apenas um competidor e passa a ser uma referência de impacto e propósito.

A transição mais difícil é a de dentro

A aposentadoria esportiva é uma das mudanças mais intensas que um atleta pode viver.
Sem a rotina exaustiva de treinos, a exposição constante e o senso de pertencimento à equipe, muitos enfrentam um vazio emocional e psicológico profundo.

Pesquisas internacionais apontam que até 70% dos atletas passam por sintomas de ansiedade ou depressão nos dois primeiros anos após a aposentadoria, especialmente por falta de preparo para lidar com a perda de identidade.

Por isso, falar de gestão de imagem é também falar de saúde mental e propósito.
Quando o atleta tem clareza sobre quem ele é além do esporte, a transição acontece com mais serenidade e abre espaço para novas possibilidades: palestras, negócios, comunicação, empreendedorismo ou causas sociais.

Exemplos não faltam: Serena Williams criou sua própria marca de moda e investimento. Michael Strahan se tornou um dos rostos mais conhecidos da TV americana. E aqui no Brasil, atletas vêm transformando suas trajetórias em histórias de impacto, mostrando que o fim da carreira competitiva pode ser o começo de um novo ciclo.

Planejar o pós-carreira é parte da performance

Ninguém chega ao pódio sem planejamento e o mesmo vale para a aposentadoria.
O pós-carreira saudável depende de três pilares fundamentais:

  1. Gestão financeira estruturada, com disciplina e visão de longo prazo.
  2. Suporte psicológico e emocional, para lidar com a transição.
  3. Gestão de imagem e posicionamento de marca pessoal, para manter relevância e abrir novas oportunidades.

O Comitê Paralímpico Brasileiro é um exemplo positivo, com programas que incentivam atletas a planejarem o futuro ainda durante o ciclo competitivo.
No exterior, o US Olympic & Paralympic Committee lançou em 2024 um programa de mentoria voltado para atletas aposentados, mostrando como o tema vem ganhando força no mundo todo.

Cuidar da imagem é parte desse processo.
Porque reputação, credibilidade e propósito são ativos que, bem geridos, continuam gerando valor mesmo depois do último pódio.

A marca pessoal como ferramenta de legado

Branding pessoal não é sobre “parecer”, é sobre expressar com coerência quem o atleta realmente é.
É alinhar valores, propósito e comportamento para construir uma narrativa autêntica, humana e inspiradora.

Uma gestão de imagem bem feita protege o atleta de crises, fortalece sua reputação e cria pontes para o futuro.
É o que transforma reconhecimento em influência e influência em legado.

Conclusão: o jogo continua, só muda o campo

A aposentadoria não precisa ser um ponto final.
Quando o atleta entende que o esporte foi apenas o primeiro capítulo de uma trajetória maior, ele passa a escrever novas histórias, com o mesmo espírito competitivo, mas com outro tipo de impacto.

A gestão de imagem é o elo entre o ontem e o amanhã.
Porque no fim, as medalhas ficam guardadas. Mas a forma como o atleta é lembrado, isso, sim, é o que o mantém eterno.

Patricia Dalpra é Estrategista em personal branding e gerenciamento de carreira.

O trabalho que Patricia Dalpra desenvolve surgiu de uma vontade e de uma certeza: vontade de levar pessoas e empresas a crescer, alcançar seus objetivos de negócios e de imagem e se relacionar melhor com outras pessoas e empresas; e certeza de que um trabalho estruturado de gestão de imagem e carreira é um dos melhores caminhos para se chegar lá. Ao longo de mais de uma década, a Patricia Dalpra já trabalhou para centenas de profissionais, executivos, empresários, atletas, instituições e empresas.

Specialties: Gestão de imagem, gestão de carreira e coaching. Personal branding, branding executivo, brand on, brand off, estudo do dna pessoal e corporativo e comunicação.