O uniforme feminino que perde jogos, mas ganha patrocínios

A Olimpíada é um dos maiores palcos do esporte mundial. Olhos de todo o mundo se viram para a capital escolhida para sediar os jogos a cada quatro anos. Não é surpresa então que assuntos e discussões atuais ganhem grande visibilidade durante esse período. Esse ano, um tema muito discutido foi a sexualização da mulher no esporte. Por muito tempo a discrepância no uniforme feminino e masculino vem chamando atenção não só dos praticantes, mas também dos torcedores. Em algumas modalidades, como handebol, vôlei de praia e ginástica, essa diferença de traje é mais visível, porém esse tópico já vem sendo questionado por diversas atletas no mundo esportivo.

As Olimpíadas de Tokyo foram marcadas por dois casos em que atletas e federações se colocaram contra aos padrões de vestimenta impostos. Um deles foi com o time de Handebol da Noruega, que trocou biquinis por short. As jogadores deram declarações que, além de se sentirem desconfortáveis com os biquínis por restrigirem seus movimentos, também as superssexualizavam. Elas já haviam feito a troca da roupa no mundial antes dos jogos e acabaram recebendo uma multa de 150 euros por jogadora, porém foram apoiadas por sua federação ao adotarem o uniforme alternativo. A escolha do mesmo traje para jogos de Tokyo, no entanto, não foi bem vista e a seleção foi ameaçada de ser eliminada da competição, caso não usasse o mesmo uniforme dos outros times. O mais chocante disso tudo é que o uniforme do handebol masculino são shorts até o joelho e blusas bem largas. Então, o argumento do Comitê Olímpico Internacional, de que o uniforme teria que seguir um padrão, não faz sentido.

O segundo caso, em que os uniformes tomaram as manchetes no Japão, foi com o time de ginástica feminino da Alemanha, que optou por um uniforme bem parecido com o do masculino. Ao invés de usarem collant, como as outras delegações, o time competiu com macacões cobrindo grande parte de seus corpos. Até então, as únicas atletas que tomaram uma atitude assim foi por questões religiosas. E sabe-se que o mundo da ginástica tem sido abalado nos últimos anos por diversos casos de abusos sexuais com meninas. Portanto, a escolha desse novo uniforme pode dar às jovens atletas mais segurança e confiança na hora de praticar o esporte.

Esse debate da sexualização da mulher no esporte começou nas Olimpíadas do Rio 2016 com o vôlei de praia. Nesta edição, percebeu-se que a preocupação maior estava concentrada nos corpos das atletas e não na parte técnica, dando a entender que a aparência era mais importante do que o talento dentro de quadra. No masculino, o uniforme é bem diferente, shorts longos e blusas bem largas, e essa diferença se dá pela questão do patrocínio. As mulheres são obrigadas a usarem biquínis, pois as marcas acreditam que mostrar o corpo das atletas traz audiência e, portanto, mais lucro. 

Quando a questão é religiosa, não há muita discussão porque qualquer adaptação no uniforme é aceita. Porém, quando são as próprias mulheres querendo escolher o que vão usar, parece que elas não têm força suficiente e não podem opinar sobre o próprio corpo. Quando faz frio, as competidoras precisam pedir autorização aos juízes e dirigentes para usarem roupas de manga comprida e, apenas com o aval deles, elas podem fazer essa mudança de vestimenta. Todo esporte precisa de regras, o problema está quando as mesmas só se aplicam às mulheres. E a mídia tem um papel importantíssimo na mudança desse panorama, pois os estereótipos criados fazem com que as mulheres que se encaixam em determinados padrões físicos consigam mais patrocinadores do que outras. 

A atleta está sempre trabalhando e performando no seu limite e, a partir do momento que o foco passa a ser o uniforme e a preocupação sobre seu corpo, isso começa a prejudicar a performance no esporte. Quanto mais à vontade as atletas estiverem, melhor serão seus desempenhos. A luta não é para que todas as mulheres passem a usar shorts, mas sim para que elas possam escolher o uniforme que as deixam mais confortáveis para fazer aquilo que realmente importa: performar em alto nível.

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Patricia Dalpra é Estrategista em personal branding e gerenciamento de carreira.

O trabalho que Patricia Dalpra desenvolve surgiu de uma vontade e de uma certeza: vontade de levar pessoas e empresas a crescer, alcançar seus objetivos de negócios e de imagem e se relacionar melhor com outras pessoas e empresas; e certeza de que um trabalho estruturado de gestão de imagem e carreira é um dos melhores caminhos para se chegar lá. Ao longo de mais de uma década, a Patricia Dalpra já trabalhou para centenas de profissionais, executivos, empresários, atletas, instituições e empresas.

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